Fé, torcida e Justiça

“Uma vez por semana, o torcedor foge de casa e vai ao estádio. A cidade desaparece, a rotina se esquece, só existe o templo. Neste espaço sagrado, a única religião que não tem ateus exibe suas divindades.” (Eduardo Galeano).

A célebre frase acima denota com sagacidade e um tanto de romantismo a FÉ dos torcedores.

Cega, inexplicável e contagiosa, esta sensação que meros mortais sentem pelo Esporte, a palpitação antes do chute, os tiques despercebidos que perseguem uma ação, e aquela coqueluche coletiva capaz de destruir a sanidade até daquele que se julga incrédulo aos deuses da cancha. Ao entrar em nosso templo, não há ceticismo.

Após desvirginar-se à presença de verdadeiros milagres o velho vira criança e passa a sentir-se mais cheio de vida. Vibrações em uma roda-gigante, e a trivialidade da rotina se esvazia ao passar a catraca, ao abraçar um “desconhecido-amigo”, ao gritar não podendo ouvir sua voz, apenas o som da manada que ecoa livremente exalando sua alegria.
Destarte, ouço desde muito jovem uma frase onde acredito ter sua parcela (grande) de verdade, “com a fé dos outros não se mexe…”!

Logo, para que todos possam continuar tendo seus momentos de meditação e elevação espiritual (risos) é necessário manter um “mínimo” de organização, criando e respeitando regras para que a harmonia seja plantada e no fim da partida o dever esteja cumprido (ou colhido).
O sábio Uruguaio Eduardo Galeano já havia percebido há tempos que no futebol (por exemplo) existe uma linha muito tênue entre o esporte que projeta-se para cumprir seu fim, e a “mercantilização” desenfreada e desrespeitosa que tenta engolir e influenciar nos templos dos torcedores. É necessário proteger essas relações, e buscar a justiça para que se mantenha intacta a FÉ daqueles que ainda encontram no esporte a fuga e/ou a solução para um mundo cheio de vícios e fraquezas.

El fin del Partido – Eduardo Galeano

“O futebol profissional faz todos os esforços para castrar o poder de felicidade, mas ele sobrevive apesar de todo o sofrimento”.
(Eduardo Galeano).

É diante desta reflexão e provocação de Galeano que me vejo instigado a contribuir com as (des)construções de ideias frente aos desportos e as leis, para que nossos templos sejam repletos de deuses que milagrosamente sirvam aos seus devotos, e que Thémis nos ajude a manter a harmonia necessária ao espetáculo.

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